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Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque foi um oficial de cavalaria português que ganhou grande fama em Portugal por ter protagonizado a captura do imperador nguni Gungunhana em Chaimite 1895 e pela condução da subsequente campanha de pacificação, isto é de subjugação das populações locais à administração colonial portuguesa, no território que viria a constituir o actual Moçambique, e entre outras coisas uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas, herói de Chaimite e de Gaza, durante as gloriosas campanhas de África 1894-1895, e um dos mais notáveis administradores coloniais.
A espectacularidade da captura de Gungunhana e a campanha de imprensa que se gerou aquando do sua chegada a Lisboa e subsequente exílio para os Açores, fizeram de Mouzinho de Albuquerque, malgrado alguma contestação ao seu comportamento ético em Moçambique, uma figura muito respeitada na sociedade portuguesa dos finais do século XIX e inícios do século XX. Era então visto pelos africanistas como esperança e símbolo máximo da reacção portuguesa à ameaça que o expansionismo das grandes potências europeias da altura constituía para os interesses lusos em África.
Foi governador do distrito de Gaza e governador-geral de Moçambique, cargo que resignou em 1898, data em que voltou a Portugal. Foi nomeado responsável pela educação do príncipe real D. Luís Filipe de Bragança. Suicidou-se em 1902, embora algumas fontes atribuam a morte a homicídio.
Biografia
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, nasceu a 12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, Leiria, filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de sua mulher Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon, descendentes de uma família da nobreza local. Era neto de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, pelo lado paterno, e de Joaquim Augusto Pereira da Silva da Fonseca, da Casa de Alcobaça, pelo lado materno.
Destinado a seguir a carreira militar, depois de estudos preparatórios, Mouzinho de Albuquerque assentou praça como voluntário no Regimento de Cavalaria n.º 4, frequentando na Escola Politécnica os cursos preparatórios para ingresso na Escola do Exército. Seguidamente ingressou no Colégio Militar da Luz, terminando o curso na Escola do Exército em 1878, sendo promovido a alferes.
No ano seguinte matriculou-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra, tendo aí casado na freguesia da Sé Nova a 9 de Março de 1879 com sua prima-irmã, Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão Lagoa, Estômbar, 23 de Julho de 1857 - Lisboa, 2 de Setembro de 1950, filha do dr. João José Antunes Mascarenhas Gaivão e de sua mulher e prima Maria Luísa Joana Mouzinho de Albuquerque, de quem não teve descendência. Em 1882, Mouzinho de Albuquerque adoeceu, facto que o impediu de frequentar o 4.º ano da Universidade e o obrigou a regressar a Lisboa, onde permaneceu dois anos em inactividade. No ano de 1884 foi promovido a tenente e nomeado regente de estudos no Colégio Militar.
Dois anos depois, partiu para a Índia, ocupando um lugar na fiscalização do Caminho-de-Ferro de Mormugão, em Mormugão, e, em 1888, foi nomeado secretário-geral do governo do Estado da Índia. Em 1890, foi promovido a capitão e nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que ocupou até 1892, altura em que regressou a Lisboa.
O ano de 1894 marca o regresso de Mouzinho de Albuquerque às colónias, desta vez comandando um esquadrão de Lanceiros que se iriam juntar às forças de expedição militar que tinha por objectivo dominar as rebeliões indígenas no sul de Moçambique.
Foi aí que Mouzinho de Albuquerque se destacou nas campanhas de África, nomeadamente a que levaria à prisão do chefe vátua Gungunhana em 28 de Dezembro de 1895, em Chaimite. A 11 de Novembro de 1895, as tropas comandadas por António Enes, entre as quais se encontrava Mouzinho, tomaram e incendiaram Manjacaze, a residência principal de Gungunhana, levando à fuga deste.
António Enes, então comissário régio em Moçambique, pediu reforços ao Governo português, mas perante a indecisão deste, decidiu dar por terminada a sua missão e regressar a Portugal. Em consequência, a 10 de Dezembro de 1895, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado governador militar do distrito de Gaza, prosseguindo com a campanha iniciada no ano anterior, entendendo que só através da prisão ou morte de Ngungunhane, então já alcunhado o Leão de Gaza, a soberania portuguesa sobre os territórios do Império de Gaza poderia ser conseguida.
Após uma temerária marcha de três dias em direcção a Chaimite, as tropas conduzidas por Mouzinho cercaram a povoação, prendendo o chefe vátua e grande parte da sua família, forçando-o a entregar mil libras em ouro, oito diamantes, armas e munições e todo o gado e marfim de que dispunha. Contudo, os relatórios dos outros militares que participaram na campanha, em particular de Soares de Andrea, indicam que Mouzinho sabia da decisão de Ngungunhane de não oferecer resistência, o que de facto se verificou.
No dia 6 de Janeiro do ano seguinte, Gungunhana e os restantes prisioneiros foram entregues, oficialmente, em Lourenço Marques, por Mouzinho de Albuquerque ao governador-geral da colónia, Conselheiro Joaquim da Graça Correia e Lança, para, dias mais tarde, serem enviados para Lisboa por ordem expressa de Jacinto Cândido da Silva, então Ministro da Marinha e Ultramar.
Depois daquele êxito militar, que granjeou numerosas manifestações de apoio em Portugal e ampla cobertura na imprensa internacional, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado 77º governador-geral de Moçambique, a 13 de Março de 1896, tomando posse a 21 de Maio. A 27 de Novembro, do mesmo ano, foi nomeado Comissário Régio.
Depois de comandar, durante o ano de 1897, as operações de ocupação colonial de Moçambique, tendo participado nos combates de Naguema 3 de Março, Mocutumudo 6 de Março e Macontene 21 de Julho, Mouzinho de Albuquerque partiu para Portugal, a 18 de Novembro, com o intuito de resolver, pessoalmente, com o governo de Lisboa questões relacionadas com a administração e o desenvolvimento económico da colónia de Moçambique, nomeadamente a concessão de um empréstimo que lhe permitisse proceder a algumas reformas.
Chegou a Portugal a 15 de Dezembro de 1897, tendo sido recebido de forma muito calorosa. Após algum tempo de repouso, viajou pela Europa Grã-Bretanha e Irlanda, França e Alemanha, onde foi orador convidado em diversas sociedades de geografia, em palestras que receberam grande cobertura pela imprensa.
A 22 de Abril de 1898, regressou a Moçambique sem levar qualquer resultado prático da sua presença na Metrópole, mas em Julho do ano de 1898, Mouzinho de Albuquerque recebe, finalmente a notícia de que tinha sido concedido o tão esperado empréstimo. No entanto, no mesmo dia, foi informado de que tinha sido decidido, a 7 de Julho, o fim das suas funções como Comissário Régio, o que o levou a apresentar, de imediato, a sua demissão, aceite pelo Presidente do Conselho, José Luciano de Castro, a 19 de Julho.
Mouzinho de Albuquerque voltou, então, a Lisboa sem ter realizado aquilo a que se tinha proposto, apesar de ter conseguido implementar algumas obras de fomento, bem como um importante impulso às receitas públicas, em boa parte através da imposição de pesados tributos sobre os povos locais, o que seria fonte de grandes conflitos e numerosas revoltas nos anos imediatos.
Foi condecorado com os graus de Grande-Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, Comendador da Ordem Militar de Avis, Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial póstuma a 14 de Julho de 1932, Comendador da Ordem da Águia Vermelha da Prússia, Comendador da Ordem de São Maurício e São Lázaro de Itália, Comendador da Ordem de São Miguel e São Jorge, da Grã-Bretanha e Irlanda com o inerente título de Sir, que não podia usar por ser estrangeiro, Comendador da Ordem de Leopoldo I da Bélgica e Comendador da Ordem de Carlos III de Espanha, Oficial da Legião de Honra de França, etc, etc.
Entre outros postos, foi nomeado, a 28 de Setembro de 1898, para o Conselho de S.M.F., ajudante de campo efectivo do rei D. Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e aio do príncipe D. Luís Felipe de Bragança. A sua posição crítica face à política e aos políticos da sua época e os rumores sobre a seu comportamento desumano durante as campanhas em África, levaram a que fosse progressivamente ostracizado e envolvido num crescente clima de intriga.
Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio orgulhoso, de resistir ao clima de intriga acerca do seu comportamento em África e à decadência em que a monarquia agonizava, Mouzinho de Albuquerque preparou minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de um coupé, na Estrada das Laranjeiras no dia 8 de Janeiro de 1902.
Mouzinho, o patrono da cavalaria
A memória de Mouzinho de Albuquerque foi repristinada durante o Estado Novo, sendo apontado como o exemplo do herói da expansão colonial portuguesa e da heroicidade da missão civilizadora que se apontava como justificação para a dominação colonial. Essa heroicidade foi acentuada durante a Guerra Colonial pelo que, pelos seus valorosos feitos em África, o major de cavalaria Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque foi feito patrono da Arma de Cavalaria do Exército Português, sendo apontado como um exemplo para os militares que servem naquela Arma.
Numa tradição que ainda se mantém, sempre que uma força de cavalaria é destacada em missão no estrangeiro, em cerimónia solene é entregue ao comandante da força o Quadro Mouzinho. Sempre que não haja uma força de cavalaria destacada o Quadro Mouzinho regressa a casa-mãe da cavalaria, a Escola Prática de Cavalaria, local onde se encontram importantes peças do seu espólio. Um busto em cera, moldado da face do próprio Mouzinho aquando da sua morte, está no Museu do Regimento de Lanceiros n.º 2.
FONTE WIKIPÉDIA