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Goa
Goa é um estado da Índia. Situa-se entre Maharashtra a norte e Karnataka a leste e sul, na costa do Mar da Arábia, a cerca de 400 km a sul de Bombaim. É o menor dos estados indianos em território e quarto menor em população, e o mais rico em PIB per capita da Índia.
A sua língua oficial é o concani, mas ainda existem pessoas neste estado que falam português, devido ao domínio de Portugal na região por mais de 400 anos. As suas principais cidades são Vasco da Gama, Panaji ou Pangim, antigo nome português, Margão Madgaon, pronúncia aproximada em concanim e Mapusa. Goa, a partir de 1510, foi a capital do Estado Português da Índia, tendo sido integrada pela força na União Indiana em 1961.
As suas igrejas e conventos encontram-se classificadas como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
História
Antecedentes
A primeira referência a Goa data de cerca de 2200 a.C., em escrita cuneiforme da Suméria, onde é chamada Gubio. Formada por povos de diferentes etnias da Índia, a influência dos sumérios aparece no primeiro sistema de medidas da região.
Por volta de 1775 a.C. os fenícios estabeleceram-se em Goa.
No período védico tardio 1000-500 a.C. é chamada, em sânscrito, Gomantak, que significa "terra semelhante ao paraíso, fértil e com águas boas". O Mahabharata conta que os primeiros arianos que chegaram a Goa eram fugitivos da extinção, pela seca, do rio Saraswati, noventa e seis famílias que chegaram por volta de 1000 a.C. A eles se uniram os Kundbis vindos do sul, para, durante 250 anos, resgatar solo do mar, aumentando o espaço fértil entre este e as montanhas.
Cerca de 200 a.C. Goa tornou-se a fronteira sul do império de Ashoka: os dravidianos tinham sido empurrados para o sul pelos arianos, como refere a Geografia de Estrabão. Por volta de 530-550, Goa é citada como um dos melhores portos do Industão, sendo chamada de Sindabur, Chandrapur ou Buvah-Sindabur pelos árabes e turcos.
Depois do império Maurya 321-185 a.C. Goa foi disputada por vários impérios em batalhas sangrentas. Por volta do século X Goa, então concentrada em torno do rio Zuari, prosperou pelo comércio com os árabes. Em 1347 caiu sob domínio islâmico e muitos templos a deuses hindus foram destruídos.
Presença portuguesa
Goa foi cobiçada por ser o melhor porto comercial da região. A primeira investida portuguesa deu-se em 1510, de 4 de Março a 20 de Maio. Nesse mesmo ano, em uma segunda expedição, a 25 de Novembro, Afonso de Albuquerque, auxiliado pelo corsário hindu Timoja, tomou Goa aos árabes, que se renderam sem combate, por o sultão se achar em guerra com o Decão. Nesse período, um cronista português descreve Goa, no período de 1512-1515:
"Os gentios do reino de Goa são mais válidos que os do reino de Cambaia. Têm formosos templos seus neste reino, têm sacerdotes ou brâmanes de muitas maneiras. Há entre estes brâmanes gerações muito honradas deles, não comem coisa que tivesse sangue nem coisa feita por mão de outrem. As gentes do reino de Goa por nenhum tormento não confessarão coisa que façam. Sofrem grandemente e soem ser atormentados de diversos tormentos. Antes morrem que confessar o que determinaram calar. E as mulheres de Goa são jeitosas no vestir, as que dançam e volteiam o fazem com melhor maneira que todas as destas partes. E costuma-se grandemente neste reino de Goa, toda mulher de gentio queimar-se por morte de seu marido. Entre si têm todos isto em apreço e os parentes dela ficam desonrados quando se não querem queimar e eles com admoestações as fazem queimar. As que de má mente recebem o sacrifício e as que de todo ponto não se queimam ficam públicas fornicárias e ganham para as despesas e fábricas dos templos donde são freguesas. Este gentios têm cada um uma mulher por ordenança, e muitos brâmanes prometem castidade e sustêm-na sempre. Nos outros portos de Goa se carrega muito arroz, sal, bétele, areca." A 'Suma Oriental' de Tomé Pires. Ed. Armando Cortesão, 1978. p. 212-218.
Uma outra descrição coeva fornece maiores detalhes:
- "Goa é habitada de muitos mouros honrados, muitos deles estrangeiros de muitas partidas. Eram homens brancos, entre os quais, além de muito ricos mercadores que aí havia, eram outros lavradores. A terra por ser muito bom porto, era de grade trato, onde vinham muitas naus de Meca e da cidade de Adem, Ormuz, de Cambaia e do Malabar. É a cidade mui grande, de boas casas, bem cercada de fortes muros, torres e cubelos; ao redor dela muitas hortas e pomares, com muitas formosas árvores e tanques de boa água com mesquitas e casas de oração de gentios. A terra é toda arredor muito aproveitada. Neste porto de Goa há grande trato de muitas mercadorias de todo o Malabar, Chaul e Dabul, do grande reino de Cambaia, que se gastam para a terra firme. Do reino de Ormuz vem aqui cada ano muitas naus carregadas de cavalos, os quais vêm aqui comprar muitas mercadorias do grande reino de Narsinga e Daquem, e compram cada um a duzentos e trezentos cruzados e segundo é, e vão-nos a vender aos reis e senhores aqui das suas terras, e, todos, uns e outros, ganham nisso muito e assim el-rei nosso senhor, que de cada cavalo tem quarenta cruzados de direitos." Livro que dá relação do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa.
Com a derrota dos muçulmanos da região, em 1553 um quinto dela estava sob domínio português, recebendo o nome de «Velhas Conquistas». Os governadores portugueses da cidade pretendiam que fosse uma extensão de Lisboa no Oriente e para tal criaram algumas instituições e construíram-se várias Igrejas para expandir o cristianismo e fortificações para a defender de ataques externos.
A partir de meados do século XVIII verifica-se um alargamento dos territórios de Goa, que passam a integrar as «Novas Conquistas».
Apesar de, com a chegada da Inquisição 1560–1812, muitos dos residentes locais terem sido convertidos violentamente ao Cristianismo ameaçados com castigos ou confisco de terra, títulos ou propriedades, a maior parte das conversões foram voluntárias tendo muitos dos missionários que aí pregaram alcançado fama. Entre estes conta-se São Francisco Xavier, que ficou conhecido como o "Apóstolo das Índias" por ter exercido a sua missionação não só em Goa, mas também noutros pontos da Índia, como Uvari que não se encontravam sob domínio Português.
A decadência do porto no século XVII foi conseqüência das derrotas militares dos portugueses para a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais dos Países Baixos no Oriente, tornando o Brasil e, mais tarde, no século XIX, as colónias africanas, o centro econômico de Portugal. Houve dois curtos períodos de dominação britânica 1797-1798 e 1802-1813 e poucas outras ameaças externas após este período.
Durante o domínio britânico na Índia, muitos habitantes de Goa emigraram para Mumbai, Calcutá, Puna, Karachi e outras cidades. O isolamento de Goa diminuiu com a construção das vias férreas a partir de 1881, mas a emigração em busca de melhores oportunidades económicas aumentou.
Em 1842 foi fundada a Escola Médico-Cirúrgica de Goa que formou médicos que viriam a exercer em todo o Império Português.
Em 1900 Goa teve seu primeiro jornal bilingue gujarati-português.
A independência da Índia
No contexto da descolonização, após os Ingleses terem deixado a Índia 1947 e os Franceses Pondicherry 1954, o governo português, liderado por António de Oliveira Salazar, recusou-se a negociar com a Índia. Por essa razão, de 18 para 19 de dezembro de 1961 uma força indiana de 40.000 soldados conquistou Goa, encontrando pouca resistência. À época, o Conselho de Segurança da ONU considerou uma resolução que condenava a invasão, o que foi vetado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A maioria das nações reconheceram a ação da Índia, mas Portugal apenas a reconheceu após a Revolução dos Cravos, em 1974.
A parte urbana de Goa denomina-se atualmente Pangim também Panjim ou Panaji. Apenas a parte histórica da cidade, hoje pouco habitada, conserva o nome antigo.
A ação missionária em Goa
Goa destacou-se por ter sido sede de duas grandes ações civilizadoras portuguesas no Oriente: a religiosa e a educacional. Foi considerada a "Roma do Oriente", erigida em Sé Metropolitana das dioceses de Moçambique, Ormuz, Cochim, Meliapor, Malaca, Nanquim e Pequim na China, e Funay no Japão, a partir de 4 de Fevereiro de 1557. Dali partiram para o apostolado os grandes vultos do catolicismo português no Oriente, como São Francisco Xavier e São João de Brito.
No que tange à ação educacional, em Goa foram erguidas inúmeras escolas e liceus, uma escola médica e institutos profissionais e técnicos. Vultos das letras portuguesas como o poeta Luís Vaz de Camões Os Lusíadas, Garcia de Orta Colóquio dos Simples e Manuel Maria Barbosa du Bocage, ali redigiram parte das suas obras.
Cronologia
1510 - Ocupação portuguesa de Goa
1535 - Diu adquirido por Portugal
1588 - Damão adquirido por Portugal
1779 - Dadrá e Nagar-Aveli adquirido por Portugal
1802 - 1813 Ocupação britânica
1946 - Província ultramarina de Portugal sob o nome de Estado da Índia Portuguesa
1954 - Dadrá e Nagar-Aveli invadidos pela Índia
1961 - Goa, Damão e Diu invadidos pela Índia
1974 - Incorporação reconhecida por Portugal
Damão e Diu desde o início, e muito mais tarde também Dadrá e Nagar-Aveli, ficaram ligados a Goa, sob o nome de Estado da Índia Portuguesa, ligados não só pela Administração, com centro em Goa, mas também por outros sentimentos, porém separados por cerca de 700 e 1500 km. Logo após a integração na Índia estiveram ainda ligados a Goa, porém, quando esta se tornou um Estado dentro da República da Índia, Damão e Diu passaram a ser administrados directamente pelo Governo Central da Índia, sob o nome de Território da União de Damão e Diu Union Territory Of Daman & Diu. Dadrá e Nagar-Aveli, integrados alguns anos antes na Índia 1954, formam um território à parte.
Clima
Com uma área de 3702 quilômetros quadrados, seu território se estende pelo Concão a costa oeste indiana por 101 quilômetros de litoral, e, mais ao interior, encontram-se as montanhas chamadas Gates Ocidentais, cuja maior elevação é o monte Songosor, de 1167 metros. O Mandovi, o Zuari, o Terekhol, o Rio Chapora e o Rio Sal são os principais rios de Goa. Goa tem mais que quarenta ilhas estuarinas, oito ilhas marinhas e dezenove ilhas de rio.
Goa, estando na zona tropical e na costa do Mar Arábico, tem um clima quente e húmido em quase todo o ano. O mês de maio é o mais quente, com temperaturas de aproximadamente 35 °, aliadas a altas humidades. As chuvas de monção chegam no começo de junho e representam um alívio no calor forte do período. Essas chuvas duram até setembro. Goa tem, ainda, uma pequena estação fresca entre o meio de dezembro e fevereiro. Estes meses têm noites com temperaturas de 20 °C e dias quentes com 29 °C aproximadamente, com moderadas rajadas de chuva.
Subdivisões de Goa
O estado é atualmente dividido em dois distritos:
Goa Norte e
Goa Sul.
Pangim ou Panaji é, simultaneamente, a capital do estado e do distrito de Goa Norte, enquanto que Margão é a capital do distrito de Goa Sul. Ambos os distritos são governados por um governador nomeado pelo governo indiano.
Idiomas
O idioma oficial de Goa é a língua concani. Depois que Portugal deixou de comandar Goa, o concani e a língua marata são os idiomas mais falados no estado. O concani, no estado, é o idioma primordial; depois, vêm a língua marata e a língua inglesa que são usadas para propósitos educacionais, oficiais e literários. Outras línguas incluem a língua hindi, a língua portuguesa e a língua canaresa.
Demografia
O gentílico de Goa é o goês ou a goesa na língua portuguesa, Goenkar em concani e Govekar na língua marata. Goa tem uma população de 1,344 milhões de habitantes, o que o torna o quarto menor estado indiano em relação à habitação depois somente dos estados de Siquim, Mizoram e Arunachal Pradesh. A população tem crescido 14,9% por década e há 363 pessoas para cada quilômetro quadrado de sua superfície total. 49,77% de sua população vive em áreas urbanas. O sex ratio do estado é de 960 mulheres para 1000 homens.
O hinduísmo 65,8%, o cristianismo 26,7% e o Islã 6,8% são as três maiores religiões goesas. O Catolicismo Romano atingiu Goa quando Portugal controlava o estado, sendo que a Inquisição fez com que muitos se tornassem católicos. Há ainda uma pequena comunidade judaica em Goa.
As maiores cidades do estado são Vasco da Gama Goa, Margão, Pangim, Mormugão e Mapusa.
EXTRAÍDO DA WIKIPÉDIA