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ABEL MANTA
Abel Manta foi um pintor e professor português. É uma figura maior da primeira geração de pintores modernistas portugueses.
Com formação em Lisboa 1908-15 e Paris 1919-25 e autor de uma obra centrada em categorias como a paisagem ou a natureza-morta, Abel Manta destaca-se em particular como "o maior retratista do seu tempo".
Biografia
Abel Manta nasce em Gouveia em 1888. Fixa residência em Lisboa em 1904 . Em 1908 matricula-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde é aluno de Carlos Reis e Ernesto Condeixa, terminando o curso em 1915.
Em 1919 parte para Paris, onde irá contactar com Francisco Franco, Dordio Gomes, Cristino da Silva e João da Silva, com quem partilha o ateliê. Frequenta o curso de gravura na casa Schulemberger; participa no Salon La Nationale, Paris, em 1921, 1922 e 1923. Regressa a Lisboa em 1925 e nesse mesmo ano expõe individualmente no Salão Bobone, Lisboa.
Em 1926 é docente da cadeira de Artes Decorativas no Ensino Técnico, no Funchal; no ano seguinte casa-se com Clementina Carneiro de Moura e em 1928 nasce o seu único filho, João Abel Manta. Em 1934 é "injustamente vencido no concurso para professor da Escola de Belas Artes, ensinando a partir desse ano e até à aposentação, em 1958, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Em 1920 recebe o 3º Prémio de Pintura na SNBA. Dez anos mais tarde participa no I Salão dos Independentes, Lisboa; a partir dessa data marca presença em inúmeras exposições coletivas, recebendo diversos prémios, nomeadamente: Prémio Silva Porto, S.N.I., 1942; 1º Prémio de Pintura, I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957.
Em 1965 realiza uma exposição retrospetiva na SNBA, Lisboa, em paralelo com Dordio Gomes
Embora discreto na forma como projetou no exterior a sua obra, Manta pertenceu por inteiro à intelectualidade do seu tempo. Privou com figuras de grande relevo, participou regularmente em tertúlias como a do café A Brasileira, Chiado.
Em 1979, foi condecorado com a Comenda da Ordem de Santiago e Espada pelo Presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes.
Na sua terra natal, Gouveia, foi inaugurado em Fevereiro de 1985 o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, num edifício setecentista. O acervo, algo limitado, contém cerca de duas dezenas de obras do pintor.
Obra
Para Abel Manta, como para a maioria dos pintores modernistas portugueses, a estadia em Paris foi determinante. A "descoberta do impressionismo e de Cézanne forneceu-lhe os instrumentos para a definição do quadro de referências da sua produção futura.
"Abel Manta passou a ser um pintor que assume uma dupla formação: a do naturalismo dos seus mestres na Escola de Belas Artes de Lisboa, com especial relevo para Carlos Reis, na procura da luz e de um registo mais imediato, bem como o rigor, a necessidade de construção que o «cilindro, a esfera e o cone» cézanneanos lhe incutiram".
"À margem de qualquer vanguardismo, detestando o academismo, sincero para consigo próprio e para com a sua visão das coisas , conseguiu compatibilizar essas referências de modo pessoal.
Embora a fase inicial se caracterize por uma estruturação das formas e do espaço pictórico mais cézanneana, mais geometrizada, não parece possível isolar no interior da sua obra períodos estanques, claramente demarcados. Centrando-se sobretudo na observação direta do real , o seu projeto artístico caracteriza-se por uma grande coerência e continuidade.
Abel Manta elegeu três domínios temáticos principais: natureza-morta, paisagem e retrato. "Entre a natureza-morta cezanniana e a paisagem urbana impressionista se define a sua obra que, na maturidade sobretudo, se enriqueceu com notáveis retratos".
Ao logo dos anos pintou retratos de gente notável, como Bento de Jesus Caraça e Manuel Mendes, familiares, amigos, vizinhos, afirmando-se "como o maior retratista do seu tempo, capaz de integrar a expressão psicológica num sistema pictural coerente, com simultâneo entendimento plástico do retratado e compreensão do seu significado humano e social".
Para compreender a dimensão dessa faceta da sua obra vale a pena demorarmo-nos nos autorretratos, "onde nos surge maciço, franco e reservado , algo interrogativo no olhar"; ou confrontar uma pintura "com aura" como o retrato do violinista René Bohet, 1930, com a sua cara na sombra e o seu "corpo quase desconjuntado, num espaço triangular, que tanto figura a música e o seu ritmo, como o músico".
Na sua obra pode destacar-se Jogo de Damas, 1927 coleção do Museu do Chiado, onde evoca Clementina Carneiro de Moura a jogar com o irmão. De herança cézanneana , esta será, segundo José Augusto França, "a obra mais significativa das suas possibilidades «modernas»", garantindo-lhe "uma posição importante entre os pintores da sua geração ,
"Atento à atmosfera da cidade tanto quanto à sua estrutura", as suas paisagens urbanas oferecem-nos "imagens fiéis mas inesperadas pela escolha do motivo ou do ângulo da sua tomada".
Manta pintou a cidade do Funchal, Gouveia ou Lisboa; "sobretudo Lisboa, onde sabia renovar e reinventar, repetindo e inovando um espaço, sempre o mesmo e sempre diferente, como o largo de Camões, lugar comum maior na sua pintura".
Através do exemplo desta série é possível confirmar a regularidade da sua obra, ver como o mesmo tema lhe serviu para gerar, ao longo dos anos, pinturas tão similarmente líricas e preocupadas com "o espaço total da composição" pinturas a que, segundo José Luís Porfírio, a palavra "impressionismo, embora imprópria", foi recorrentemente associada .
FONTE WIKIPÉDIA