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Bernardo Marques
Bernardo Loureiro Marques foi um pintor, ilustrador e artista gráfico português. Foi autor de uma obra vastíssima e multifacetada que lhe confere um lugar de destaque na arte portuguesa do século XX.
Biografia
Bernardo Marques nasce em Silves, no Algarve, a 21 de Novembro de 1898. Frequenta o liceu de Faro e, em 1918, começa os estudos na Faculdade de Letras de Lisboa onde conhece Ofélia Marques, sua futura mulher que abandona em 1921.
Não frequenta o ensino artístico e, tal como outros pintores da sua geração, como Mário Eloy ou Carlos Botelho, será um artista essencialmente autodidata.
Em 1920 apresenta ao público pela primeira vez os seus trabalhos, na III Exposição de Arte do Grupo de Humoristas Portugueses, ao lado de Almada Negreiros, Emmerico Nunes ou Cristiano Cruz; no ano seguinte inicia intensa atividade gráfica em revistas e jornais, colaboração que irá manter até 1932; e a partir de 1925 publica, no Diário de Notícias, a crónica "Os domingos de Lisboa" até 1929.
Em 1929 faz uma estadia na Alemanha.
Em 1931 trabalha na decoração do pavilhão de Portugal na Exposição Internacional e Colonial de Vincennes, Paris; nesse mesmo ano participa no I Salão dos Independentes, SNBA, Lisboa.
A partir de 1937 integra, juntamente com Carlos Botelho ou Fred Kradolfer, a equipa de decoradores do S.P.N. Secretariado de Propaganda Nacional encarregues da realização dos pavilhões de Portugal nas exposições de Paris, Nova Iorque e S. Francisco: Exposição Internacional de Artes e Técnicas, Paris, 1937; Feira Mundial de Nova Iorque, Nova Iorque, 1939; Exposição Internacional de S. Francisco, S. Francisco, Califórnia, 1939.
Em 1940 integra a equipa de decoradores da Exposição do Mundo Português, Lisboa.
Na década de 1950 participa em várias mostras coletivas, nomeadamente na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, 1957, onde lhe são atribuídos os prémios de desenho e de aguarela.
Em 28 de Setembro de 1962 morre, em Lisboa.
O seu trabalho é apresentado postumamente em várias exposições individuais, nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, em 1966, 1982 e 1989.
Obra
A prática artística de Bernardo Marques estende-se por um período de mais de 40 anos e abrange uma multiplicidade de áreas. "Foi gráfico ao longo de quatro décadas, tendo dirigido graficamente as revistas Panorama e Colóquio; dedicou-se ao desenho, ao desenho de humor; fez ilustração podem destacar-se as ilustrações para O Livro de Cesário Verde; trabalhou em cenografia; por último, deve referir-se a sua faceta de decorador, ligada à ação do SPN / SNI.
Essa polivalência torna difícil isolar de forma clara o seu projeto artístico autónomo durante as primeiras décadas de atividade. De personalidade reservada, a sua presença no contexto artístico nacional foi discreta e em vida não realizou uma única exposição individual.
Decorador e ilustrador durante dezenas de anos, foi essa a imagem que prevaleceu até à sua morte prematura em 1962, "escondendo a do grande desenhador que ele era também.
A sua obra inicia-se na década de 1920, em sintonia com os "novos valores gráficos, dentro de um espírito modernista". Bernardo Marques critica com humor usos e costumes, ilustra e desenha temas do quotidiano, dando-nos imagens que são "sinais de uma urbanidade nascente, que parece ter existido mais em imaginação do que na realidade"; a par deste mundo moderno e estilizado, inspirado na vivência da Lisboa cosmopolita e elegante, "encontramos também uma temática popular, onde se denota um profundo entendimento do povo, rural e urbano, visto não apenas como motivo etnográfico e decorativo, mas como protagonista da sociedade.
Em 1929 viaja até Berlim, destino invulgar numa época em que Paris ocupava o centro das atenções de todo o mundo da arte. A estadia na Alemanha, associada ao exemplo de Georg Grosz, altera profundamente a sua forma de pensar o desenho, tanto a nível temático como formal.
"Adaptando a Lisboa o que Grosz e o expressionismo alemão lhe inspiraram", vemos emergir temas socialmente mais intensos e uma outra atitude crítica. E em novas imagens, a roçar o grotesco, "a estilização gráfica vai ser substituída por um traço mais violento.
Veremos depois a sua obra assimilar a "redescoberta folclórica que se institucionaliza a partir da grande produção do Estado Novo que foi a Exposição do Mundo Português, 1940; o desvio revela-se na obra de Bernardo Marques "através de inúmeras ilustrações, capas, arranjos gráficos e até publicidade.
A força dos desenhos mais intensos dos anos trinta, caracterizados por linhas de contorno expressivas, encontrará contraponto em trabalhos de meados dessa mesma década onde prevalece já uma outra sensibilidade que dilui as figuras e as paisagens: "em Paris, num registo mais atmosférico, mais próximo das impressões e da poética de um espaço preenchido por sinais, as pessoas tornam-se apontamentos breves de uma multidão indiferenciada.
Gradualmente, irá passar da análise dos homens à análise das coisas e concentrar-se na representação da paisagem, rural ou urbana. É esta a origem do seu modo final, da longa produção autónoma que realiza sobretudo entre 1950 e a data da sua morte.
Nesse percurso solitário, nessa "descida ao interior das aparências", irá revisitar Matisse ou Dufy em longas séries de desenhos que evocam a cidade de Lisboa ou as paisagens da Eugaria Sintra, do Marão, Urgeiriça, Abrunhosa… ou do Algarve da sua infância, mas onde o lugar será sobretudo "o pretexto para a representação dos seus valores mais imateriais, a luz, a atmosfera, a cintilação interior que transparece nos vazios ou nos cruzamentos do preto sobre o branco".
O traço quebrado desmultiplica-se e invade o papel, num "discurso fragmentário sobre o real" onde os espaços nem sempre "se preenchem com os contornos físicos das aparências. São muitos os traços imaginários que desenham o rasto de uma ausência.
FONTE WIKIPÉDIA