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História de Timor-Leste
A ilha de Timor atraiu comerciantes chineses e malaios, devido à sua abundância de sândalo, mel e cera. A formação do comércio local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo para a diversidade étnico-cultural.
Primórdios
De acordo com alguns antropólogos, um pequeno grupo de caçadores e agricultores já habitava a ilha de Timor por volta de 12 mil anos a.C. Há documentos que comprovam a existência de um comércio esporádico entre o Timor e a China a partir do século VII, ainda que esse comércio se baseasse principalmente na venda de escravos, cera de abelha e sândalo, madeira nobre utilizada na fabricação de móveis de luxo e na perfumaria, que cobria praticamente toda a ilha. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam tributo ao reino de Java. O nome Timor provem do nome dado pelos Malaios à Ilha onde está situado o país, Timur, que significa Leste.
A colonização
Quando em 1512 os mercadores Portugueses primeiro chegaram à Ilha, a parte Leste que hoje equivale a Timor-Lorosae, era habitada pelo Povo Maubere dividido entre duas confederações de reinos, os Serviãos e os Belos. Já a parte Oriental da ilha, hoje equivalente à província Indonésia de Timor Oriental era habitada pelo povo Atoni, tradicionais inimigos dos Serviãos e dos Belos. Assim, enquanto estes últimos se aliaram aos Portugueses, os Atoni resistiram a fazer comércio com eles e quando em 1651 a Companhia Holandesa das Índias Orientais conquistou Kupang, os Atoni decidiram aliar-se aos Holandeses contra os Portugueses e os Mauberes.
Os Mercadores portugueses foram atraídos pelos recursos naturais em 1514, trazendo os missionários e a religião católica que atualmente é predominante. Com a chegada do primeiro governador, vindo de Portugal em 1702, deu-se início à organização colonial do território, criando-se o Timor Português. Em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e os Países Baixos para terminar com os conflitos entre os dois países, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados australianos e holandeses envolveram-se numa dura guerra contra as forças japonesas em Timor. As forças japonesas entraram em Timor-Leste em Fevereiro de 1942 para expulsar as forças australianas que tinham ocupado o território em Dezembro de 1941, violando a neutralidade da então colónia portuguesa. Algumas dezenas de milhar de timorenses deram a vida lutando ao lado dos Aliados, entre os quais se encontrou o célebre régulo Dom Aleixo.
Em 1945, a Administração Portuguesa foi restaurada no Timor Português. Seguiu-se um período de quase três décadas em que não se manifestaram movimentos independentistas.
Período Pós-Revolução dos Cravos
As guerras nas colónias africanas não encontraram eco no longínquo Timor. A razão para a ausência de sentimentos ou movimentos defensores da independência da colónia poderá residir no facto de o domínio português ter funcionado, ao longo de séculos, como aglutinador de vários povos e defensor da identidade étnica, cultural e política da região face aos vários expansionismos em acção na Insulíndia; além disso, a presença portuguesa não assumiu um carácter de exploração económica, visto que a precária economia timorense era dominada por uma pequena burguesia de origem chinesa, há muito estabelecida no território.
Apesar disso, a Assembleia Geral das Nações Unidas, pela Resolução 1514 XV de 14 de Dezembro de 1960, considerou o Timor Português como um Território Não Autónomo sob administração Portuguesa. Tal nunca foi aceite pelos governos dos Presidentes do Conselho António de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano e pela Constituição de 1933 que continuaram a considerar o território como parte integrante de Portugal. Tal resolução veio, todavia, a ser aceite pela Lei 7/74 de 27 de Julho do Conselho da Revolução que demonstrou a aceitação da independência de todos os territórios ultramarinos, incluindo Timor Português.
Nessa altura a administração Portuguesa promoveu a criação de partidos políticos. Foram criados:
União Democrática Timorense, que defendia a integração de Timor numa Comunidade de Países de Língua Portuguesa;
Associação Social Democrática Timorense que se viria a tornar a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente que defendia um período de autonomia gradual, seguido da independência;
Associação Popular Democrática Timorense que defendia a integração de Timor-Leste na Indonésia como uma região autónoma.
Na sequência da formação destes partidos, o governo Português propôs a eleição de uma assembleia popular pelos Timorenses e a nomeação por Lisboa de um Alto Comissário com o fim de conduzir o território à independência total. Esta solução foi aceite quer pela UDT quer pela ASDT mas recusada pela APODETI. Nessa altura a Indonésia adoptou uma política de intervenção mais dura levando a cabo o suborno de líderes políticos e campanhas de intimidação. Foi neste cenário que Francisco Lopes da Cruz, Presidente da ADT, mudou de opinião e começou a fazer campanha dentro do seu partido pela integração do Timor Português na Indonésia.
Foi neste cenário que em 1975 se realizaram as eleições municipais nos quais a ASDT obteve 55% dos votos, a ADT, ainda dividida entre os partidários de Lopes da Cruz e da integração na Indonésia e os partidários de uma evolução rumo à independência obteve cerca de 40% e a APODETI teve muito pouco apoio popular.
Insatisfeito com os resultados, Francisco Lopes da Cruz e os seus apoiantes pró-Indonésia levaram a cabo um golpe de estado contra as autoridades Portuguesas na noite de 10 de Agosto de 1975. Nessa altura 23 soldados e oficiais Portugueses foram feitos reféns e levados para a Indonésia. O Alto Comissário Mário Lemos Pires e as restantes forças Portuguesas no território, sem apoio de Portugal numa altura em que o país vivia o Verão Quente, refugiram-se no Ilhéu de Ataúro.
Entre Setembro e Dezembro a ASDT/FRETILIN consegue derrotar Lopes da Cruz e os seus seguidores, consegue o controlo da maioria do território e o apoio da maioria da população. É nesta altura que em Portugal se dá o Golpe de Estado do 25 de Novembro, que põe fim ao PREC, derrota o PCP e põe o país no caminho da Democracia.
Como resultado destes acontecimentos:
- A FRETILIN encontra-se em controlo da maioria do território e com o apoio da população;
- Já não aceita entrar em negociações com os outros dois partidos;
- Também já não aceita o controlo de Portugal dado que tinha lutado sozinha contra as forças pró-Indonésia sem o apoio Português;
Assim, a 28 de Novembro a FRETILIN declara a independência de Portugal que é recusada pelo governo de Lisboa, que teme que isso sirva de pretexto às forças Indonésias para invadir o território. Uma semana depois, o Presidente Americano Gerald Ford e o seu Secretário de Estado, Henry Kissinger chegam a Jakarta para uma visita de Estado à Indonésia. Pouco depois destes saírem, a 8 de Dezembro, a Indonésia iniciou uma invasão em larga escala do território.
Portugal quebra relações diplomáticas com a Indonésia, denuncia o Ato de Agressão e requer à ONU apoio para a promoção da auto-determinação de Timor-Leste. A 12 de Dezembro a Assembleia Geral das Nações Unidas apoia uma resolução reconhecendo Portugal como potência administrante de Timor-Leste, condenando o acto da Indonésia e convidando este país a retirar as suas forças imediatamente. Dez dias depois, a 22 de Dezembro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 384/1975 com o mesmo teor.
A Indonésia ignora ambas as resoluções e inaugura um período de ocupação de 24 anos que ficaria marcado por terríveis atentados contra os direitos humanos do povo de Timor-Leste.
Invasão da Indonésia
Em 8 de Dezembro de 1975 Timor-Leste foi invadido pela Indonésia que a ocupou durante os 24 anos seguintes. Timor mergulhou na violência fratricida e o governador Mário Lemos Pires, destituído de orientações precisas de Lisboa e sem forças militares suficientes para reimpor a autoridade portuguesa, abandonou a capital e refugiou-se na ilha de Ataúro, que fica de frente para a cidade de Díli atual capital de Timor-Leste.
A Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o comunismo, discurso que lhe garantiu apoio do governo dos EUA e da Austrália, entre outros, mas que não impediu a sua condenação pela comunidade internacional.
A invasão indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós II Guerra Mundial. A Indonésia recorreu a todos os meios para dominar a resistência: calculam-se em duzentas mil as vítimas de combates e chacinas; as forças policiais e militares usavam de forma sistemática e sem controlo meios brutais de tortura, a população rural, nas áreas de mais acesa disputa com a guerrilha, era encerrada em "aldeias de recolonização", procedeu-se à esterilização forçada de mulheres timorenses.
Simultaneamente, a fim de dar ao facto consumado da ocupação um carácter irreversível, desenvolveu-se uma política de descaracterização do território, quer no plano cultural proibição do ensino do português e a islamização, quer no plano demográfico javanização, quer ainda no plano político integração de Timor na Indonésia como sua 27ª província. A esta descaracterização há que acrescentar a exploração das riquezas naturais através de um acordo com a Austrália para a exploração do petróleo no Mar de Timor.
No terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos recursos materiais, humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados desaires, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, pela morte em combate de Nicolau Lobato ou por detenção de Xanana Gusmão. Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados do mundo, conseguiu, nos tempos mais recentes, alargar a sua luta ao meio urbano com manifestações de massas e manter no exterior uma permanente luta diplomática, para o que contou, em muitas circunstâncias, com a compreensão e o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.
INDEPENDENCIA
Em 30 de Agosto de 1999, os timorenses votaram por esmagadora maioria pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia, na sequência de um referendo promovido pelas Nações Unidas. O resultado do referendo gerou confrontos por parte de grupos pró-Indonésia. O conflito, que destruiu boa parte da infraestrutura do país e matou mil pessoas, só foi resolvido com a mobilização da Missão das Nações Unidas de Apoio no Timor-Leste UNMISET. Em 20 de Maio de 2002 a independência de Timor-Leste foi restaurada e as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste.
FONTE WIKIPÉDIA