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Francisco Martins Rodrigues
Francisco Martins Rodrigues foi um político português, fundador do primeiro movimento marxista-leninista nacional.
Filho de um oficial do exército expulso por ser oposicionista ao governo, Francisco Martins iniciou o seu percurso político em 1949 no Movimento de Unidade Democrática , após a deslocação da família para Lisboa, onde estuda até ao 6º ano do liceu e trabalha, primeiro numa livraria e depois como aprendiz de mecânico na TAP.
Actividade opositora, primeiras detenções e incorporação ao PCP
É preso pela primeira vez, durante três meses, em 1951 por se manifestar contra a NATO, o que provoca o seu despedimento. Sucessivamente detido em pouco tempo, abandona a casa dos pais, passando a viver na semi-clandestinidade até 1953, quando adere como funcionário no Partido Comunista Português .
Em 1956 começa a questionar a linha do PCUS, após o XX Congresso, nomeadamente a chamada 'coexistência pacífica'. No ano seguinte, é detido novamente, pela quarta vez, e é conduzido à prisão de Peniche onde estuda e começa a elaborar textos teóricos marxistas. Lá conhece dirigentes como Álvaro Cunhal, Francisco Miguel e Jaime Serra.
Fuga de Peniche
A 3 de Janeiro de 1960, participou na célebre "fuga de Peniche", juntamente com Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Pedro Soares, Jaime Serra, Guilherme da Costa Carvalho, José Carlos, Rogério de Carvalho e Carlos Costa. Os chamados "Dez de Peniche" protagonizaram um episódio lendário na história da resistência antifascista portuguesa, que reforça o PCP na luta contra o salazarismo.
Na rua, voltou à militância numa tipografia clandestina em Carnide, perto de Lisboa. Em 1961, incorporou-se ao Comité Local do partido em Lisboa, além de membro suplente do Comité Central. Em 1962, fez parte da Comissão Executiva, encarregando-se do trabalho político relativo à margem sul e arredores da capital do país.
Ruptura com o PCP, prisão, torturas e 25 de Abril
Lutador fervoroso contra o fascismo, foi preso pela PIDE cinco vezes, totalizando doze anos de cárcere. Apoiante da extrema-esquerda, após a sua saída da direcção do Partido Comunista Português em 1963, tornou-se inimigo da teoria cunhalista do 'levantamento nacional', e defensor da independência de classe na luta contra a ditadura.
A ruptura com o Partido Comunista Português veio antecedida de discrepâncias com a linha do partido face à guerra colonial, após ter escrito um manifesto, a pedido do Comité Central, que o secretário-geral considerou "muito vermelhusco" e alheio ao "espírito do partido", e por isso censurado. Martins apoiava no documento a insurreição popular armada como via para a oposição à política colonial da ditadura portuguesa, em apoio aos povos africanos que enfrentavam o colonialismo português naqueles anos.
Seguem-se diferenças sobre a política da URSS, que cristalizam numa viagem a Moscovo em que o comité Central do exterior resolve destitui-lo do posto na Comissão Executiva. Martins é proposto como secretário de Álvaro Cunhal, mas recusa a proposta.
Foi então enviado para Paris, incorporando-se à organização do partido na capital francesa. Faz críticas à posição em assuntos como a guerra colonial, a passagem pacífica ao socialismo ou a revolução democrática e nacional.
Lidera a primeira ruptura do PCP, no contexto do conflito sino-soviético. O seu abandono do partido levá-lo-á a ser o mais importante ideólogo de extrema-esquerda nacional, participando na criação do Comité Marxista-Leninista Português e da Frente de Acção Popular em 1964, em Paris, apoiado pelo médico João Pulido Valente e por Rui D’Espiney.
Nesse mesmo ano, visita a China maoista e a Albânia de Hoxha. Numa tentativa de regresso a Portugal, foi denunciado pelo Avante!, e manteve-se em Paris. Voltou em 1965 para fazer trabalho político no CMLP. A identificação de um colaborador da polícia política no interior da organização acaba com a morte do infiltrado, acção reivindicada pela FAP. Francisco Martins é preso pela PIDE, sofrendo torturas violentas, juntamente com os dois outros criadores do CMLP e da FAP.
Martins é condenado a 20 anos de prisão, Pulido Valente a 12 e Rui D'Espiney a 15. Só dois dias depois do 25 de Abril de 1974 foi solto, junto a Rui D'Espinay e Filipe Viegas Aleixo, depois de os presos do PCP terem ficado livres com antecedência.
Fundação da UDP
Após a Revolução dos Cravos participou na fundação do PCR Partido Comunista Reconstruído e da UDP, organização de massas que atingiu uma importante influência em sectores à esquerda do PCP. Em 1983 abandona ambas organizações, considerando que caíram nos mesmos desvios atribuídos ao PCP.
Nessa altura, Francisco Martins é já considerado um dos maiores teóricos do marxismo português. Caracteriza o 25 de Abril como sendo uma "crise revolucionária" e atribui a derrota final às fraquezas estruturais das organizações revolucionárias junto ao "reformismo" do PCP, plasmado na sua proposta de "unidade dos portugueses honrados" num "levantamento nacional".
Quanto às organizações à esquerda do PCP, Martins considera que elas não fizeram a necessária ruptura com uma União Soviética que, para ele, não representava um projecto socialista. Daí para a frente, os escritos de Francisco Martins vincarão essa necessidade, marcando a orientação interclassista proposta por Georgi Dimitrov em 1935 como ponto de ruptura com a tradição bolchevique da independência da classe em relação à pequena burguesia. A sua obra Anti-Dimitrov. 1935-1985 meio século de derrotas da revolução recolhe o seu pensamento em relação ao que considera uma deriva reformista no conjunto dos partidos comunistas a partir da década de trinta.
Revista comunista Politica Operária
Em 1984, tornou-se o fundador da Organização Comunista Política Operária e director da revista do mesmo nome, que continua a publicar-se na actualidade.
Na última década da sua longa vida de luta revolucionária, estreitou laços de solidariedade com o movimento independentista galego, participando habitualmente nas manifestações do Dia da Pátria Galega 25 de Julho, nas Jornadas Independentistas Galegas organizadas pela organização comunista galega Primeira Linha e noutros eventos em apoio da autodeterminação da Galiza e das outras nações sem Estado da Península Ibérica País Basco e Catalunha.
Faleceu em 2008, aos 81 anos, após uma grave doença. Foi cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, a 23 de Abril. Publicado postumamente, o seu livro Os anos do silêncio contém notas autobiográficas, uma descrição das práticas de tortura do sono a que foi submetido e a sua defesa num julgamento de 1970.
FONTE WIKIPÉDIA