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Irene Lisboa
Irene do Céu Vieira Lisboa, foi uma escritora, professora e pedagoga portuguesa.
Biografia
Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu na Quinta da Murzinheira, freguesia de Arranhó, concelho de Arruda dos Vinhos no dia 25 de Dezembro de 1892. Foi escritora, professora e pedagoga portuguesa. Formou-se pela Escola Normal Primária de Lisboa, depois continuou os estudos na Suíça, França e Bélgica onde se especializou em Ciências de Educação, o que a habilitou a escrever várias obras sobre assuntos pedagógicos. Durante a estadia em Genebra, mercê de uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, teve a oportunidade de conhecer Jean Piaget e Édouard Claparède, com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau.
Começou a vida profissional como professora da educação infantil. Em 1932 recebeu o cargo de Inspectora Orientadora do ensino primário e infantil. Como destaca Rogério Fernandes: «o programa de tal departamento desenhado por Irene Lisboa, reformulava de alto a baixo as funções de um órgão estatal até aí consagrado exclusivamente ao controlo ideológico, administrativo e disciplinar dos docentes. Eis a razão porque Irene Lisboa foi afastada do cargo, primeiro para funções burocráticas – foi nomeada para o Instituto de Alta Cultura – e depois, em 1940, definitivamente afastada do Ministério da Educação e de todos os cargos oficiais, por recusar um lugar em Braga. Na verdade, foi uma forma de exílio para uma pedagoga incómoda pelas suas ideias avançadas.
Irene Lisboa dedicou-se por completo à produção literária e às publicações pedagógicas. No entanto não foi livre na expressão dos seus pensamentos. «Restavam-lhe a imprensa, o livro, a conferência. Grande parte das suas intervenções tem, precisamente, esses suportes, mas convém não esquecer que o controlo censório exercido pela ditadura salazarista sobre a expressão pública do pensamento não lhe permitiu certamente a transmissão das suas opiniões com toda a claridade.
Faleceu a 25 de Novembro de 1958, a um mês de cumprir 66 anos de idade.
A escrita dominou toda a sua vida. A obra literária que produziu foi elogiada por alguns dos seus pares como José Rodrigues Miguéis, José Gomes Ferreira e João Gaspar Simões, embora nunca tenha tido grande aceitação por parte do público.
Em homenagem à pedagoga Irene Lisboa a Federação Nacional dos Professores fundou, em 12 de Janeiro de 1988, o Instituto Irene Lisboa.
Caracterização da obra
A produção literária de Irene do Céu Vieira Lisboa reparte-se pela poesia, pelo conto, pela crónica e pela novela. Apesar da variedade das formas toda a sua obra se caracteriza por ter um núcleo intimista e autobiográfico que a unifica.
Irene Lisboa estreia-se no palco literário português em 1926 com Treze Contarelos, um livro de contos destinado às crianças. Como diz Violante Magalhães no artigo "Irene Lisboa e a literatura para crianças" a obra, tal como os outros escritos da autora para os mais pequenos, caracteriza-se por um estilo de oralidade e discurso directo. Ao longo do livro Irene Lisboa usa a frase curta, mas bem estruturada. Tudo com o propósito de cumprir as ideias pedagógicas desenvolvidas nos seus trabalhos teóricos que publicava sob o nome de Manuel Soares.
Entretanto, continua a colaboração com jornais e revistas da época, dos quais se destacam Seara Nova, Presença e O Diabo. Em 1936, sob o pseudónimo de João Falco, publica o segundo livro, desta vez de poesia, intitulado Um dia e outro dia… – Diário de uma Mulher. No ano seguinte, sob o mesmo pseudónimo, surge Outono havias de vir, outra obra de poesia.
Como destaca Paula Morão os poemas de Irene Lisboa, isentos de rimas e de ritmo regular, são muitas das vezes intercalados por frases mais longas nas quais não se mantém a aparência gráfica dos versos. Como diz a própria Irene Lisboa: "Ao que vos parecer verso chamai verso e ao resto chamai prosa. Esta ruptura com os cânones da lírica tradicional insere-se na polémica sobre a afirmação do verso livre em Portugal. José Correia do Souto escreve que a poesia de Irene Lisboa toca os temas concretos, quotidianos, mas sempre com um olhar "de quem vê nascer o Mundo em cada humilde manifestação de vida". É uma escrita confessional que valoriza as pequenas coisas da gente do povo e implicitamente critica valores burgueses.
Ainda sob o nome de João Falco aparece em 1939 o livro titulado Solidão – Notas do punho de uma mulher, que, pela inserção das datações genéricas e pelo carácter introspectivo, se aproxima do género diarístico. A mesma temática intimista, o estilo e a característica fragmentação de Solidão – Notas do punho de uma mulher têm continuação em Apontamentos e em Solidão – II. Publicados respectivamente em 1943 e em 1966 são livros de cunho autobiográfico em que uma voz feminina fala de si e do seu íntimo. Predomina o tema de solidão e da queixa pela ausência do amor, o que não impede a autora um olhar vasto do mundo.
As novelas Começa uma vida 1940 e Voltar atrás para quê? 1956 também se situam na vertente autobiográfica da escritora. As duas relatam a vida de uma rapariga desde a sua infância até aos dezoito anos. Contam os acontecimentos que a tornaram solitária, agressiva e muito atenta ao mundo que a rodeava. Como diz Paula Morão:
"separada da mãe cerca dos três anos, vive com o pai e uma madrinha na quinta desta, estigmatizada por uma bastardia que o crescimento vem agudizar, não só pelas suas sequelas no imaginário da protagonista, mas pelas consequências práticas sobre a sua vida, vendo-se desprovida de bens materiais e sobretudo simbólicos nunca reconhecida pelo pai e espoliada dos seus direitos por acção de gente ambiciosa e sem escrúpulos. Sendo uma história pessoal, um "caso", ela é também exemplar de um certo tempo português do começo do século XX, caracterizado pela decadência dos terratenentes e da burguesia promovida pelo dinheiro à custa do sacrifício dos mais fracos.
Outra vertente da prosa de ficção de Irene Lisboa centra-se nas curtas formas de narrativa, que a própria escritora denomina como "crónica" ou "reportagem". Esta Cidade!, O pouco e o muito – Crónica urbana, Título qualquer serve para novelas e noveletas, Crónicas da Serra são algumas destas curtas obras que retratam tanto o mundo urbano lisboeta como o rural e o serrano. Nelas Irene Lisboa toma como motivo central os pequenos dramas quotidianos do povo, sobretudo das mulheres que frequentemente aparecem como personagens passivas e sofredoras. As histórias são cheias de melancolia e comoção da autora. Assim escreve Massaud Moisses sobre estas obras de Irene Lisboa:
"Certa melancolia, fruto possível dum solipsismo de raiz e de hábito, envolve os quadros dramáticos, dando-lhes o carácter de vistos através de lágrimas ou dum véu de comoção que a narradora não esconde nem atenua. Resulta disso uma escritora humaníssima, aderida às pessoas com uma simpatia ultra-estética, que advém de ser uma sensibilidade a sua, apta a fixar a mínima vibraçãoo da alma humana
Consequentemente, Irene Lisboa mostra-se como uma escritora muito humana e sensível ao drama dos outros.
Podemos resumir a obra de Irene Lisboa com as palavras de Jacinto do Prado Coelho que constata que:
"Ainda a propósito dos seus livros, diz-se que tudo o que produziu reage a uma desolada situação de mulher alta e livre num mundo atrasado meio pequeno-burguês, conseguindo vencer a solidão, graças a uma convivência aberta à gente simples da rua, da escada de serviço, com quem se integra no seu próprio linguajar através de alguns dos seus livros"
Concluímos que mercê a esta convivência aberta com a gente simples da rua com a qual se integra na sua escrita, redescobrindo o amor das coisas simples e revalorizando os pequenos factos do quotidiano sem história, Irene Lisboa consegue vencer a solidão.
Irene Lisboa, além duma vasta obra literária deixou muitos trabalhos científicos na área da Pedagogia.
FONTE WIKIPÉDIA