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José da Silva Carvalho
José da Silva Carvalho foi um dos obreiros da Revolução de 1820 e ministro de D. João VI, de D. Pedro IV e de D. Maria II.
Biografia
1782-1820: Filho dum casal de humildes e pobres lavradores, seus pais, José da Silva Carvalho e Ana de Carvalho, à custa de milagres de economia, conseguiram que frequentasse o Colégio das Artes em Coimbra e mais tarde, em 1800, a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se formou em 1805.
Em 1810 foi colocado como juiz de fora da vila de Recardães, casando-se em 1811 com Maria Clara Esteves Correia de Brito, e em 1814 foi nomeado Juiz dos Órfãos da cidade do Porto. Foi nessa altura que se iniciou na vida política em que tanto se notabilizou.
Descontentes com a ingerência inglesa na vida política de Portugal, em 1818, José da Silva Carvalho, Manuel Fernandes Tomás, José Ferreira Borges e João Ferreira Viana, fundaram o Sinédrio, associação revolucionária de que veio a resultar a Revolução Liberal de 1820
1820-1823: Saindo vitoriosa a revolta, Silva Carvalho foi eleito membro da Junta Provisional preparatória das Cortes.
Mais tarde fez parte da Regência do Reino até ao regresso de D. João VI do Brasil, onde se tinha refugiado aquando da Primeira Invasão Francesa.
Depois da chegada do soberano a Lisboa 3 de Julho de 1821 foi-lhe confiada a pasta dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça.
Em 1821, com o nome simbólico Hydaspe, foi membro da Loja 15 de Outubro, onde ocupa o cargo de Venerável. Em 1822 ou 1823 e até 1839 ocupa o cargo de 8.º Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano
1823-1826: Em 1823 deu-se a reacção absolutista e Silva Carvalho foi forçado a emigrar para a Inglaterra a fim de salvar a vida – 1.º Exílio.
1826-1828: Aclamado rei, D. Pedro IV outorgou a Carta Constitucional a que se seguiu uma amnistia e então Silva Carvalho regressou ao reino e, desiludido com o governo retirou-se da política e veio viver para a sua aldeia natal, onde foi alvo de perseguições; a casa onde nasceu e onde viveu nos seus retiros campestres, ainda hoje é propriedade dos seus descendentes.
D. Pedro IV abdicou do trono em favor de sua filha D. Maria da Glória que deveria casar com D. Miguel; D. Miguel jurou a Carta e regressou a Portugal para ser rei.
1828-1832: D. Miguel chegou a Portugal vindo de Viena de Áustria, traiu o seu juramento e proclamou-se rei rei absoluto, movendo uma perseguição feroz contra os liberais, o que forçou José da Silva Carvalho a refugiar-se num esconderijo na sua casa de Vila Dianteira; desse esconderijo ainda hoje existem vestígios.
Aí foi perseguido pelos miguelistas conseguindo, no entanto, escapar fugindo de sua casa disfarçado de criado e rumou para Lisboa e daqui para Inglaterra – 2.º Exílio. É um episódio curioso que o povo desta aldeia guardou na memória e transmitiu de pais para filhos.
Os exilados reuniram-se no estrangeiro formando um partido que defendia a Carta Constitucional e a Rainha, e, mais tarde, quando D. Pedro IV veio do Brasil a França para se colocar à frente dos liberais, organizaram uma expedição que comandada pelo conde de Vila Flor, depois duque de Terceira, conquistou os Açores.
Silva Carvalho é nomeado Auditor Geral do Exército Libertador. A expedição saiu de S. Miguel e a 8 de Julho de 1832 desembarcou na praia de Mindelo e a os liberais entraram na cidade do Porto.
1832-1836: Os miguelistas retiraram desta cidade e os liberais ocuparam-na. As tropas de D. Miguel fizeram depois um cerco ao Porto por largo tempo, tornando muito penosa a vida da população.
Distinguiu-se Silva Carvalho neste cerco pela sua coragem e inteligência incutindo ânimo aos já desanimados. Por tudo isto D. Pedro nomeou-o a 3 de Dezembro de 1832, ministro da Fazenda e poucos meses depois da Justiça.
Foi a instâncias de Silva Carvalho, que em 1833, para libertar a cidade sitiada, saiu do Porto, a bordo de uma esquadra, uma expedição comandada pelo duque de Terceira; a esquadra estava por sua vez sob o comando do almirante inglês Charles Napier.
A esquadra miguelista foi derrotada no cabo de S. Vicente e o duque de Terceira atravessou o Algarve, o Alentejo e apoderou-se de Lisboa.
Um outro chefe liberal, o duque de Saldanha, bateu os miguelistas que levantaram o cerco do Porto para acudir ao sul em Almoster. O duque de Terceira bateu-os em Asseiceira e foi assinada a Convenção de Évora-Monte 26 de Maio de 1834. D. Miguel partiu para o estrangeiro e a paz voltou ao Reino.
A 24 de Setembro de 1834, morreu D. Pedro IV e desde logo a acção de Silva Carvalho foi entorpecida, até que a revolução de Setembro de 1836 a aniquilou de todo, obrigando-o a expatriar-se mais uma vez – 3.º Exílio.
1836-1856: Silva Carvalho regressou a Portugal em 1838, para jurar a Constituição. Encontrou ainda os ânimos muito exaltados, no entanto, dotado de nobre carácter estendeu a mão aos adversários e continuou a sua carreira de legislador e de magistrado.
De 1840 a 1856 ocupa os cargos de 1.º Grão-Mestre do Grande Oriente do Rito Escocês e de 1.º Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 afecto ao Grande Oriente do Rito Escocês
José da Silva Carvalho faleceu a 5 de Setembro de 1856 e foi sepultado no Cemitério dos Prazeres em Lisboa, no sector das figuras ilustres de Portugal.
Recusou por várias vezes títulos de nobreza que lhe encobrissem a sua origem plebeia.
Como nos diz o historiador Luís Augusto Rebelo da Silva: No seu túmulo pobre, mas ornado dos brasões populares de uma larga série de serviços e de sacrifícios, fala mais alto o nome só, como elogio e epitáfio, do que uma longa série de avós esquecidos ou pior ainda do que a fatuidade de uma coroa de conde ou de marquês. Silva Carvalho previu que o nome lhe havia de chegar puro à posteridade como o recebera de seus pais e guardou-o com o nobre orgulho de uma grande alma.
O seu neto António Viana sintetiza a vida do seu avô dizendo que: "Silva Carvalho representou o tipo mais elevado de revolucionário político – espírito transigente, coração magnânimo, pulso de ferro" in José da Silva Carvalho e o seu Tempo, de António Viana
Honras e cargos
Ministro da Justiça 7 de Setembro de 1821 a 28 de Maio de 1822,
Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, de 1822 a 1839,
Ministro da Fazenda: na regência de D. Isabel Maria, desde 13 de Dezembro de 1832, substituindo Mouzinho da Silveira; entre 1834-1835; no governo de Saldanha, de 15 de Junho a 18 de Novembro de 1835, substituindo Francisco António de Campos; no governo de Terceira, de 20 de Abril a 10 de Setembro de 1836.
Acumulação de pastas: a da Marinha, de 26 de Março a 26 de Abril de 1833; a Justiça, de 31 de Abril de 1833 a 23 de Abril de 1834.
Membro da Associação Eleitoral do Centro, que concorre às eleições de 1838.
Juiz Conselheiro e primeiro Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,
Deputado às Cortes várias vezes,
Par do Reino,
Conselheiro de Estado efectivo,
Grã-Cruz em Portugal da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e da Ordem de Carlos III de Espanha,
Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa e do Instituto Histórico do Brasil.
Correspondência
A correspondência de Silva Carvalho é vasta e encontra-se, em boa parte, publicada na obra do seu neto António Viana. No entanto, acrescenta-se/destaca-se a correspondência com:
Jeremy Bentham JB: 24 de Agosto de 1821, 7 de Novembro de 1821, 18-26 de Dezembro de 1821.
Publicações
Revolução Anti-Constitucional de 1823 - suas verdadeiras causas e efeitos em colaboração com Francisco Simões Margiochi, Impresso por L. Thompson, Londres, 1825
Instruções Provisórias dirigidas às autoridades administrativas e fiscais…, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1834
Relatório apresentado na Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa em 23 de Janeiro de 1835, Imprensa Nacional, Lisboa, 1835
Manifesto sobre a execução que teve a lei de 19 de Dezembro de 1834 nas operações de fazenda que em virtude della se fizeram…, Typ. Patriotica de Carlos José da Silva & Comp.ª, Lisboa, 1836, 44 pp
FONTE WIKIPÉDIA