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FREI GIL
Dom Gil Rodrigues de Valadares, também conhecido sob os nomes de São Frei Gil de Portugal, São Frei Gil de Vouzela, terra do seu nascimento, São Frei Gil de Santarém, local do seu falecimento, ou simplesmente São Frei Gil, foi um frade dominicano médico, taumaturgo, teólogo e pregador português dos séculos XII e XIII, beatificado pelo papa Bento XIV a 9 de Maio de 1748. É um dos beatos portugueses com maior projecção nacional e internacional.
Nasceu na Quinta da Cavalaria actual edifício da Santa Casa da Misericórdia local, em Vouzela, entre 1184 e 1190, sendo este último ano o dado como mais certo pelos historiadores, e morreu em Santarém a 14 de Maio de 1265. Nesta quinta afirma uma tradição ter também nascido o célebre alferes-mor do Reino Dom Duarte de Almeida, o Decepado.
Era filho de D. Rui Pais de Valadares, ou Dom Rodrigo Pais de Valadares, fidalgo do Conselho de el-Rei D. Sancho I e seu mordomo-mor, alcaide-mor de Coimbra, então ainda a capital do Reino,pois que residência habitual do monarca. A esta conclusão nos leva o epitáfio latino duma sepultura da Igreja de Santa Cruz de Coimbra, epitáfio recolhido por Fr. André de Resende, O. P., e que reza assim traduzido do latim ao português: «Aqui jaz Dom Rodrigo, pai de Frei Gil de Santarém e Alcaide-Mor do Castelo e Cidade de Coimbra».
Sua mãe foi Dona Maria Gil Feijó, segunda mulher de Dom Rui, senhora de origem ilustre e alegadamente dotada de notável prudência e exímias virtudes.
Consta terem sido seus pais senhores honrados, queridos de todos, pela sua índole boa e compassiva. S. Fr. Gil D. Gil Rodrigues de Valadares teve irmãos, sendo conhecidos, quanto ao nome, D. João Rodrigues de Valadares e D. Paio Rodrigues de Valadares. De um outro irmão seu nada se sabe, nem sequer o nome. De outro ainda ignora-se o nome, mas consta que foi deão da Sé de Lisboa.
São Frei Gil recebeu provavelmente a sua educação religiosa e intelectual no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, a primeira escola de estudos superiores em Portugal, e doutorou-se posteriormente em Teologia na Universidade de Paris. Ao deixar a pátria, cerca de 1225, tinha já alguns benefícios e prebendas eclesiásticos e, quiçá, a dignidade de presbítero.
Sobre S. Fr. Gil e o seu percurso de vida teceram os séculos numerosas lendas e histórias. Há quem afirme que entregara a sua alma ao demónio na juventude, assinando um documento com o próprio sangue. Há quem acrescente que a sua conversão tivera início apenas na mesma cidade de Paris e se consumara em Palência, onde entrara na Ordem dos Pregadores.
Nada disto está comprovado e a literatura e tradição oral em questão deve ter muito de apócrifo, tendo de ser muito joeirado o seu conteúdo neste ponto. Sabe-se, porém, que nessa época pregava à juventude estudantil de Paris Fr. Jordão de Saxónia, que veio a ser o segundo Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, fundada havia muito poucos anos. E pregava com tal êxito que muitos jovens estudantes e até professores abandonaram o mundo e vieram a abraçar a vida religiosa na mesma Ordem. Entre eles sobressai o Venerável Humberto de Romans, que veio a ser Mestre Geral da Ordem e quinto sucessor de S. Domingos. Mestre Humberto escreveu que S. Fr. Gil fora seu companheiro de noviciado. Pode concluir-se, portanto que S. Fr. Gil entrou na Ordem Dominicana, atraído pelo Beato Jordão de Saxónia conjuntamente com o Venerável Humberto de Romans pelos anos de 1224-1225, regressando a Portugal pelos anos de 1229.
Tem o seu nome ligado aos factos conhecidos relacionados com a deposição de D. Sancho II e à subsequente regência e ascensão ao trono de D. Afonso III.
Foi designado prior provincial da sua Ordem para as Espanhas em 1233, tendo defendido no Capítulo da Ordem na cidade castelhana de Burgos a instalação de um convento na cidade do Porto. Em 1238 participou no Capítulo geral da Ordem, na cidade italiana de Bolonha, em que saiu eleito Mestre Geral Raimundo de Penaforte. Foi eleito pela segunda vez como Provincial em 1257.
Os seus restos mortais foram colocados em humilde sepultura monástica, até que seis anos mais tarde, D. Joana Dias, senhora de Atouguia, sua parente, custeou as despesas dum melhor túmulo numa das capelas do convento dominicano de Santarém.
A sua sepultura tornou-se lugar de peregrinação ao longo dos séculos; por sua intercessão e pela virtude das suas relíquias acredita-se terem sido operadas graças singulares e milagres que bem cedo levaram o povo a venerá-lo como santo. Depois da Guerra Civil portuguesa, em 1833, por ordem do então governador-civil de Santarém, Joaquim Augusto Burlamaqui Marecos, 1º barão e 1º visconde de Fonte Boa, seguindo instruções do novo Governo liberal, foi o egrégio convento dominicano de Santarém vendido e destruído ao desbarato, ali se tendo construido em seu lugar uma praça de toiros. Apenas alguns dos despojos arquitectónicos medievais foram salvos, encontrando-se actualmente reunidos em exposição ecléctica na capital do Ribatejo.
Do túmulo de S. Fr. Gil apenas resta a tampa com a estátua jacente, transferido para o Museu Arqueológico, no Museu do Carmo, em Lisboa. Recolheu-a das ruínas do que foi convento dominicano de Santarém o arqueólogo Possidónio Narciso da Silva.
D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses, 4º marquês de Penalva, 10º conde de Tarouca, casado com uma senhora Almeida da casa dos morgados da Quinta da Cavalaria, em Vouzela, descendentes estes por varonia do insigne Decepado, e considerados descendentes colaterais do santo que a tradição afirma ter nascido na mesma casa que o alferes-mor, conseguiu entrar na posse do cofre-relicário com as relíquias do corpo do santo. Encontra-se este agora na Quinta das Lapas, perto de Torres Vedras. O maxilar inferior, relíquia insigne, devidamente autenticada, é venerado na Capela de S. Fr. Gil, em Vouzela. Uma tíbia sua conserva-se na Igreja do Corpo Santo, em Lisboa. cf. Frei Gil de Portugal, Médico, Teólogo, Taumaturgo - Prefácio, págs. 11 e 12 - por João de Oliveira, O. P. - 1973.
São Frei Gil é o santo padroeiro da vila de Vouzela, em Portugal, sendo a sua festa celebrada a 14 de Maio, feriado municipal.
No centro de Vouzela, no Largo Moraes Carvalho existe um capela dedicada a S. Frei Gil, construída no Século XVII em estilo Barroco.
FONTE WIKIPÉDIA