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Fernando Namora
Fernando Namora de nome completo Fernando Gonçalves Namora, médico e escritor português, autor de uma extensa obra que, durante os anos 70 e 80, foi das mais divulgadas e traduzidas.
Licenciado em Medicina 1942 pela Universidade de Coimbra, pertenceu à geração de 40, grupo literário que reuniu personalidades marcantes como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado ou João José Cochofel, moldando-o certamente como homem, à semelhança do exercício da profissão médica, primeiro na terra natal depois nas regiões da Beira Baixa e Alentejo, em locais como Tinalhas, Monsanto e Pavia, até que, em 1950, acabaria por se instalar em Lisboa - onde, curiosamente, muito jovem chegou a estudar no Liceu Camões -, como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.
O seu volume de estreia foi Relevos 1937, livro de poesia, porventura sob a influência do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro. É, contudo, em 1938 que surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo galardoado com o Prémio Almeida Garrett no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, para as artes plásticas - na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração, envolve-se no projecto do Novo Cancioneiro 1941, colecção poética de 10 volumes que principia com o seu livro-poema Terra, cujo lançamento assinala[3] o advento do neo-realismo, demarcando uma viragem na literatura portuguesa. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a colecção dos Novos Prosadores 1943, pela Coimbra Editora, com os romances Fogo na Noite Escura, do biografado, Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros e nesta sequência.
Com uma obra literária que se desenvolve ao longo de cinco décadas é de se salientar a sua precoce vocação artística, de feição naturalista e poética, tal como a importância do período de formação em Coimbra, mais as suas tertúlias e movimentos estudantis. Ao dar-se o amadurecimento estético do neo-realismo e coincidente com as vivências dos anos 50, enveredaria por novos caminhos, por via de uma interpretação pessoal da narrativa, que o levaria a situar-se entre a ficção e a análise social. Os muitos textos que escreveu, nos diferentes períodos ou fases da vida, apresentam retratos com aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Independentemente do enquadramento, Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, inseparável de uma grande sensibilidade e linguagem poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem, com destaque para os cadernos de um escritor, que proporcionam um diálogo vivo com o leitor, a abertura a outras culturas, terras e gentes, tal como a visão de um mundo em transformação, o anúncio de uma realidade emergente, expressa em Estamos no Vento Fevereiro de 1974.
Entre os muitos títulos que publica em prosa contam-se Fogo na Noite Escura 1943, Casa da Malta 1945, As Minas de S. Francisco 1946, Retalhos da Vida de um Médico 1949 e 1963, A Noite e a Madrugada 1950, O Trigo e o Joio 1954, O Homem Disfarçado 1957, Cidade Solitária 1959, Domingo à Tarde 1961, Prémio José Lins do Rego, Os Clandestinos 1972, Resposta a Matilde 1980 e O Rio Triste 1982, Prémio Fernando Chinaglia, Prémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis. Ou, as biografias romanceadas de Deuses e Demónios da Medicina 1952. Além dos títulos já referidos, publicou em poesia Mar de Sargaços 1940, Marketing 1969 e Nome para uma Casa 1984 . Toda a sua produção poética seminal seria reunida numa antologia 1959 denominada As Frias Madrugadas. Escreveu também narrativas romanceadas, sobre o mundo e a sociedade em geral, anotações de viagem e reflexões críticas, em Diálogo em Setembro 1966, Um Sino na Montanha 1970, Os Adoradores do Sol 1972, Estamos no Vento 1974, A Nave de Pedra 1975, Cavalgada Cinzenta 1977, URSS, Mal Amada, Bem Amada e Sentados na Relva, ambos de 1986. Porém, foram romances como os Retalhos da Vida de um Médico, O Trigo e o Joio, Domingo à Tarde, O Homem Disfarçado ou O Rio Triste, que mereceram sucessivas traduções em várias línguas, tendo inclusive, em 1981, sido proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.
Se quisermos contextualizar, sistematizar a sua obra em fases distintas de criação literária, podemos identificar: o ciclo de juventude, principalmente enquanto estudante em Coimbra, coincidente com o livro-poema Terra e o romance Fogo na Noite Escura; o ciclo rural, entre 1943 e 1950, representado pelas novelas Casa da Malta escrita em 8 dias e Minas de San Francisco, ou pelos romances A Noite e a Madrugada, O Trigo e o Joio sem esquecer os Retalhos da Vida de um Médico, cuja edição espanhola 1ª tradução apresenta o prefácio de Gregório Marañón; o ciclo urbano, coincidente com a sua vinda para Lisboa, marcado pela solidão e vivências do quotidiano, e que se terá reflectido no romance O Homem Disfarçado, em Cidade Solitária ou no Domingo à Tarde; o ciclo cosmopolita, ou seja, dos cadernos de um escritor, balizado no final dos anos 60 e década de 70, explicado pelas muitas viagens que fez, nomeadamente à Escandinávia, e pela sua participação nos encontros de Genebra; o ciclo final, entre a ficção contemporânea, onde se insere o romance O Rio Triste ou Resposta a Matilde, intitulado pelo próprio divertimento, e as reflexões íntimas de Jornal sem Data 1988.
Sendo talvez uma das suas obras mais conhecidas, Retalhos da Vida de um Médico, foi a primeira a ser adaptada ao cinema, por intermédio do realizador Jorge Brum do Canto em 1962, filme seleccionado para o Festival de Berlim, seguindo-se a série televisiva, da responsabilidade de Artur Ramos e Jaime Silva 1979-1980.
O Trigo e o Joio foi adaptado para o cinema em 1965, por Manuel Guimarães, com Manuel da Fonseca. Do mesmo realizador, para televisão e em 1969, tem-se Fernando Namora.
Domingo à Tarde seleccionado para o Festival de Veneza, foi realizado por António de Macedo em 1965 e contou com actores como Isabel de Castro, Ruy de Carvalho e Isabel Ruth.
Em 1975, surge Fernando Namora – Vida e Obra, realizado por Sérgio Ferreira.
A Noite e a Madrugada, de 1985, deve a sua realização a Artur Ramos. Resposta a Matilde, de 1986, foi adaptado a televisão por Dinis Machado e Artur Ramos', com a participação de Raúl Solnado e Rogério Paulo. Em 1990, regista-se O Rapaz do Tambor, curta metragem de Vítor Silva.
Casa Museu Fernando Namora
Ali, a dois passos da Vila, o Rio de Mouros. Nasceu de um fio de água, do suor de uma rocha, entre urzes e montes. Ainda a meio da serra, é um ribeirito que não dá para matar a sede a um rebanho. Mas depois, a terra começa, subitamente, a ficar brava, com penedos que têm o ar de montanhas, e o rio despenha-se entre os silvais e as fragas em som e espuma, com um fragor que, de Inverno, com as cheias, estremece os ouvidos da serra e dos homens. – texto de 1941.
É possível visitar a casa onde Fernando Namora nasceu, e onde os seus pais abriram um pequeno estabelecimento comercial, situada no centro da vila de Condeixa, distrito de Coimbra.
Inaugurada em 30 de Junho de 1990, esta iniciativa resultou da ideia de um grupo de amigos, seus conterrâneos, que quiseram homenageá-lo através da proposta da criação de uma Casa-Museu, de modo a recordar a todos, e nas palavras do Sr. Ramiro de Oliveira, que é Condeixense e que aqui viveu a sua infância e parte da mocidade.
Aberta ao público desde então, nela se pode encontrar o seu escritório, tal qual estava em Lisboa, com todos os seus livros e objectos pessoais, e que acabou por ser o destino do que fui acumulando ao longo dos anos, coisas minhas, coisas do que vi e vivi e ainda valiosas coisas alheias que de algum modo se relacionam comigo. - carta de 7 de Junho de 1984.
Obras de Fernando Namora
As Sete Partidas do Mundo, romance – 1938
Fogo na Noite Escura, romance – 1943
Casa da Malta, romance – 1945
Minas de San Francisco, romance – 1946
Retalhos da Vida de um Médico, narrativas / primeira série – 1949
A Noite e a Madrugada, romance – 1950
Deuses e Demónios da Medicina, biografias romanceadas – 1952
O Trigo e o Joio, romance – 1954
O Homem Disfarçado, romance – 1957
Cidade Solitária, narrativas – 1959
As Frias Madrugadas, poesia – 1959
Domingo à Tarde, romance – 1961
Retalhos da Vida de um Médico, narrativas / segunda série – 1963
Diálogo em Setembro, crónica romanceada – 1966
Um Sino na Montanha, cadernos de um escritor – 1968
Marketing, poesia – 1969
Os Adoradores do Sol, cadernos de um escritor – 1971
Os Clandestinos, romance – 1972
Estamos no Vento, narrativa literário-sociológica – 1974
A Nave de Pedra, cadernos de um escritor – 1975
Cavalgada Cinzenta, narrativa – 1977
Encontros, entrevistas – 1979
Resposta a Matilde, divertimento – 1980
O Rio Triste, romance – 1982
Nome para uma Casa, poesia – 1984
URSS mal amada, bem amada, crónica – 1986
Sentados na Relva, cadernos de um escritor – 1986
Jornal sem Data, cadernos de um escritor – 1988
Extraído da Wikipédia